Investidores-anjo ganham terreno
Publicado emApesar da falta de tradição e escassez de recursos para inovação, o volume de investimento em novos projetos vem crescendo no país. Mais do que isso. Passa nos últimos dez anos por etapas de profissionalização e organização de grupos e fundos. Seja pelas mãos de investidores-anjo, que criam associações com membros experientes para estudar ideias e conceitos inovadores, ou por meio da formatação de fundos direcionados ao chamado capital semente, para empresas que já operam, mas que querem crescer inovando em áreas consideradas promissoras.
A movimentação dos fundos de capital semente ou dos investidores-anjo ainda não foi amplamente mapeada, mas é visivelmente crescente. Nas contas de Robert Binder, conselheiro da Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity (ABVCAP), o volume financeiro circulante entre os fundos de capital semente no Brasil está em torno de R$ 1 bilhão, sendo que boa parte desses recursos vem do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Finep, vinculada ao Ministério da Ciência e Tenologia.
Binder, que é também sócio da Antera Gestão de Recursos, administrou o primeiro fundo de investimento criado pelo BNDES, o Criatec 1, em 2007, com patrimônio de R$ 100 milhões, destinado a empresas com faturamento de até R$ 6 milhões anuais. De lá para cá, o banco lançou em 2013 o Criatec 2, com R$ 186 milhões para negócios com receita de até R$ 10 milhões e anunciou o Criatec 3, que terá R$ 200 milhões para investir em quem fatura até R$ 12 milhões.
"Está previsto também o lançamento do fundo Primatec pela Finep até dezembro com patrimônio que pode chegar a R$ 100 milhões, que será administrado pela Antera", afirma Binder. Este fundo será dirigido a empresas incubadas ou parques tecnológicos. A Finep também deverá lançar três outros fundos até o fim deste ano. Cada um com patrimônio de R$ 50 milhões, sendo R$ 30 milhões a contrapartida da Finep. Esses fundos vão se unir aos outros oito de capital semente que possuem R$ 340 milhões em patrimônio.
Pode se dizer que em uma fase ainda mais inicial de investimentos estão os anjos. Que olham muitas vezes projetos que ainda estão no papel, mas que precisam ser muito bem fundamentados para convencê-los. Precisam provar o caráter inovador e a capacidade de crescimento em escala. A Anjos do Brasil é uma das associações de investidores mais recentes. Porém, a maior. Fundada há três anos por Cássio Spina e seis sócios, possui 240 membros e potencial de investimentos próximo a R$ 2,6 bilhões para os próximos dois anos.
Mais do que investir em ideias, a associação tem como objetivo fomentar o crescimento do investimento anjo para apoio ao empreendedorismo de inovação, promovendo até mesmo capacitação profissional. "Estamos investindo em 150 projetos hoje. Considerando que cada um recebe em média R$ 350 mil, são mais de R$ 52 milhões empenhados em negócios de TI, smartphones, tecnologia educacional, saúde, sistemas de gestão, Big Data e por aí vai", afirma Spina.
A Anjos do Brasil recebe cerca de 70 projetos por mês e faz uma filtragem cuidadosa antes de apresentá-los aos investidores. "Não pode ser só uma ideia no papel. Tem que apresentar um protótipo e prova de conceito. Além de inovador, tem que levar vantagem competitiva ao cliente e ter potencial amplo", indica Spina.
Mas o Brasil está ainda muito longe de países como os EUA em tamanho e acesso aos recursos. O último levantamento publicado pelo centro de pesquisa da universidade New Hampshire indicou um total de US$ 22,9 bilhões investidos por anjos em 67 mil negócios de inovação em 2012, crescimento de 1,8% sobre o ano anterior. São 268,1 mil investidores-anjo por lá.
A SP Anjos é outra associação que cresce de forma estruturada. Possui hoje 32 membros, sendo que 23 deles estão investidos em cinco projetos que consideram promissores. Cada negócio recebeu, em média, R$ 500 mil para se constituir em empresa na área de saúde, educação, internet e entretenimento, setores que consideram prósperos em inovação.
Para o presidente da associação, que possui capital potencial entre R$ 15 milhões e R$ 17 milhões e recebe cerca de 30 propostas de avaliação por mês, o investidor anjo compra participação societária com capital intelectual e financeiro ao apostar em um desses negócios. "O nosso conhecimento é capaz de acelerar o sucesso do negócio. Mas esse é um investimento de altíssimo risco, pois o negócio pode dar certo ou não. Por isso, o prêmio de saída quando o investimento dá certo costuma ser alto", afirma Élcio Morelli, um dos primeiros investidores a se organizar em associação do país. Para que compense o risco, Morelli diz que o investidor anjo busca reaver no mínimo cinco vezes o capital investido.
Fonte: Valor Econômico